Monica e suas interfaces

Uma mistura de jornalismo literário, psicologia e mitologia



Primeira sexta-feira de lua cheia depois do equinócio de outono no Hemisfério Sul. Requisito básico para uma única conclusão: é chegada a Sexta-feira Santa, data comemorativa no cristianismo para simbolizar a morte de Jesus. As festividades da Páscoa estavam abertas.

Nos lares brasileiros, muitas famílias se reuniam na ocasião. Na mesa, banquetes de bacalhoada e lasanha aromatizavam o ambiente e abriam o apetite. As mesas da peixaria da esquina lotavam até a calçada com clientes.

Enquanto isso, em um prédio na Vila Madalena, aquele feriado teria um significado um pouco diferente:

- Vocês aceitam um chá?

Monica Martinez disponibilizou o seu consultório para a entrevista. Um ambiente com o estilo clean. E não somente pela mobília em tons de bege que contracena com o lilás das cortinas das janelas – que, por sua vez, suaviza os raios solares que iluminam o interior da sala –, mas também pela leveza que o lugar transmite. Como receber um amigo para um bate-papo no conforto de casa.

A ceia de Páscoa estava prestes a ser montada. No cardápio dos convidados, tinha uma câmera Nikon Coolpix L830, tripé, fios de carregador e extensão e um microfone de lapela. No da anfitriã, experiência, gentileza e uma didática provinda da carreira acadêmica. 

O que define o jornalismo literário hoje?

Principais referências do passado e do presente.


No canto direito da sala, havia um relógio de mesa. E a cada movimento dos ponteiros, seu tic-tac podia ser ouvido.

Mas por que uma jornalista, referência no segmento literário, tem um consultório?

Monica sempre teve fascínio por histórias de vida. Graduou-se em Jornalismo pela UMESP. Mas foi ao cursar o Mestrado em Ciências da Comunicação, na ECA-USP, que descobriu o nome de sua paixão: Jornalismo Literário, na disciplina lecionada por Edvaldo Pereira Lima, que – até hoje – considera-o mentor. Assim, assumiu sua interface literária.

Tic-tac. 

É possível dizer que as técnicas e as características indicadas por acadêmicos da área, como Edvaldo Pereira Lima, ainda se mantêm?

Técnicas do new journalism no jornalismo literário atual.


Apaixonada e impulsionada pelo “bichinho” que não a faz parar de estudar, ela seguiu para o Doutorado em Ciências da Comunicação, na mesma ECA-USP. A sua tese deu origem ao seu livro “Jornada do Herói: A estrutura narrativa mítica na construção de histórias de vida em jornalismo”. E então, foi incorporada sua interface mitológica.

Tic-tac.

- Depois, percebi que tinha bastante coisa para pesquisar sobre o assunto [mitologia] que o jornalismo não contemplava ainda e fiz algumas disciplinas como ouvinte no Instituto de Psicologia da USP.

Anos mais tarde, com pós-doutorados e a docência, Monica não perdeu o encanto pelas histórias de vida. E decidiu aprofundar-se na psique humana, correlacionando-a com a mitologia, através da Especialização em Psicologia Junguiana – baseada nas ideias do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. E, enfim, sua interface psicológica é aderida a si.

Tic-tac.

- Segunda e terça eu sou da Comunicação. E quinta e sexta da Psicologia (risos).

Em quais meios há a produção do jornalismo literário tanto no Brasil quanto no exterior?

Qual o melhor formato para impulsionar o leitor brasileiro?

Livro “Jornada do Herói: A estrutura narrativa mítica na construção de histórias de vida em jornalismo”, de Monica Martinez


O método Junguiano quebra a distância imposta pelo divã e dispõe de uma poltrona – para a analista – em frente de um sofá de dois lugares – para o paciente. Do mesmo modo, a ceia da ocasião foi servida.  

Monica Martinez possui a capacidade de sentar na frente de uma pessoa que não conhece, com o olhar apurado e mente vazia, a fim de mergulhar numa realidade inexplorada. E, assim, trazer e expor elementos inovadores, que nunca foram apresentados de tal forma.

Independente do dia da semana. Independente do Jornalismo e Psicologia. Mas, sempre, com todas as suas interfaces.

Tic-tac. E, também, desta vez: trriiiiim!

O interfone anuncia a chegada do próximo paciente. 

Jornalismo Literário: segmento ou estilo de escrita?

Futuro do jornalismo literário no Brasil.


Equipe

Bruno Bertonzin

@b_bertonzin

Rafael Barbosa

@rafabarbosa_jor

Rebecca Botelhos

@reebotelhos