Editorial

Jornalismo Web Autoral: uma nova forma de escrita que une reportagem multimídia e jornalismo literário



O jornalismo literário precisa se renovar. Ao longo do desenvolvimento deste projeto, foi notado que, ao relacionar o new journalism com o jornalismo literário atual no Brasil, este estilo de linguagem tem um ponto de semelhança muito grande com sua corrente americana dos anos 60: o uso das mesmas plataformas, após cinco décadas.

Na época do new journalism americano, autores como Truman Capote, Gay Talese e Tom Wolfe encontraram espaço para a utilização de textos mais narrativos principalmente em revistas. Exemplos como The New Yorker e Esquire são lembrados até os dias atuais como grandes veículos que usam o jornalismo autoral. 

Posteriormente, a coletânea dessas reportagens dava origem a livros-reportagem, onde a literatura da realidade poderia ser explorada na íntegra, sem precisar ser dividida em séries de publicações. Um exemplar apenas teria a liberdade espacial de contar toda a história retratada. São os casos de “A Sangue Frio”, escrito por Truman Capote e publicado a princípio na revista The New Yorker, e “Radical Chic”, criado por Tom Wolfe e previamente relatado na New York Magazine.

No Brasil, apesar de ter muito menos veículos para desenvolver uma reportagem longa e humanizada, destacou-se a Revista Realidade na época. Nota-se que também era o mesmo meio impresso. E, já no século XXI, uma coletânea de reportagens do periódico seria reunida por José Carlos Marão e José Hamilton Ribeiro – ex-repórteres da publicação – no livro “Realidade revista: a história e as melhores matérias da revista que marcou o jornalismo e influenciou as mudanças no país”.

Vale dizer que a prática continua com a mesma rotina. Eliane Brum, uma das principais repórteres do estilo na atualidade, também teve suas crônicas do jornal Zero Hora e da revista Época reunidas em livros como “A Vida Que Ninguém Vê” e “A Menina Quebrada”, respectivamente.

Além disso, outros escritores ainda se destacam com biografias ou longas reportagens feitas exclusivamente para livros. No meio impresso, a Revista Piauí atualmente é o maior exemplo de exercício do jornalismo narrativo.

Porém, com o avanço das tecnologias e o surgimento das redes sociais, o jornalismo tradicional foi obrigado a seguir o rumo da modernidade e se adaptar a este novo mundo. Posts no Twitter e no Facebook, notificações em aplicativos no celular e páginas de internet responsivas passaram a fazer parte dos veículos de comunicação tanto no Brasil quanto em diversos países do mundo.

Em contrapartida, o jornalismo literário não trilhou o mesmo caminho. A internet – que, na teoria, demanda textos curtos e de rápida leitura – passou a ser vista como um obstáculo para que essa linguagem chegasse ao mundo virtual.

Esta reportagem multimídia visa mostrar exatamente o contrário: o meio digital pode sim ser uma plataforma e uma ferramenta de avanço da literatura de não-ficção. O Jornalismo Web Autoral é o estilo que une os conceitos do Webjornalismo e do Jornalismo Literário, para criar reportagens que tenham profundidade, textos narrativos e, ao mesmo tempo, use a convergência de mídias como recurso para contar a mesma história de diferentes modos.

Somente a internet possibilita que um assunto seja abordado por meio de linguagem escrita, auditiva e visual – por vídeos ou imagens – em um único ambiente. Por isso, este projeto visa acrescentar, dentro do mundo jornalístico, uma nova possibilidade de prática e de estudo.

O sucesso do Jornalismo Web Autoral também trará benefícios para as redações – que terão mais um estilo de escrita –, os profissionais – os quais verão esse método também como um trabalho independente viável – e a academia – cujo meio poderá atualizar o ensino do jornalismo literário. 


Equipe

Bruno Bertonzin

@b_bertonzin

Rafael Barbosa

@rafabarbosa_jor

Rebecca Botelhos

@reebotelhos