Uma viagem pelos principais movimentos de contracultura e técnicas do jornalismo americano nos anos de 1960
Em 1960, surgiu uma banda que, até hoje, mexe com a cabeça de jovens do
mundo todo: Os Beatles. Dois anos depois, Rolling Stones. Três anos após
eles, Led Zeppelin. E assim seguiram os revolucionários anos 60, com quebras
de tabus, os jovens experimentando a vida, as mulheres – cada vez mais
– lutando por seus direitos, as minorias em busca de seu lugar no mundo.
E foram nesses exatos anos 60 que muita coisa mudou, ou continuou a mudar,
nos Estados Unidos, em pleno auge no
American way of life. Ao mesmo tempo que várias novidades apareciam
em solo norte-americano; para muita gente, tudo continuava no atraso social
de sempre. Negros e mulheres continuavam a enfrentar a discriminação que
lhes era habitual. Em uma década onde tudo se transformava, eles também
iniciariam a busca por conquistas sociais.
Foi em 1961, enquanto os Beatles começavam a aparecer para o mundo – quando
foram apresentados ao seu primeiro empresário, Brian Epstein, em Liverpool
–, que os Viajantes da Liberdade iniciavam sua jornada, de Washington com
destino aos estados do sul dos Estados Unidos, onde a segregação racial
era mais vista. Eles faziam sua trilha de ônibus e paravam por várias cidades
para fazer protestos pelos direitos civis.
Em muitas dessas paradas, eram agredidos pelos moradores das cidades.
Quanto mais próximo do sul, maior era a violência. Muitas vezes a recepção
a eles era feita a pau e pedra. Nas cidades de Anniston e Birmingham, no
Alabama, um dos ônibus com os Viajantes teve seus pneus furados e, na sequência,
membros da Ku Klux Klan atearam fogo nele. Mesmo fora dos veículos, as
agressões não pararam.
Quando os negros revidavam, e também havia brancos entre os feridos, as
equipes de resgate se recusavam a prestar socorro aos Viajantes da Liberdade.
Essa tarefa sobrava para moradores das cidades por onde passavam, que simpatizavam
com aquela causa. Em sua maioria, esses moradores também eram negros.
No ano seguinte, quando nascia – na Flórida – o ator afrodescendente Wesley
Snipes – que retrataria na tela dos cinemas de todo o mundo o filme “Sonho
Americano” –, pela primeira vez um negro ingressava em uma universidade
no Mississipi. James Meredith teve sua entrada protegida por agentes federais
depois do próprio governador do estado tentar impedir sua entrada.
A pantera é um animal que possui musculatura forte e garras e dentes afiados,
que servem como armas de ataque e defesa. Arcada dentária e unhas são usadas
também com o intuito de se defender de ataques de outras presas, quando
necessário.
Assim como a pantera, os Black Panthers Party (ou Partido dos Panteras
Negras, em português) surgiram como uma forma de autodefesa dos negros,
mas a partir de conflitos e confrontos diretos com os grupos opressores.
Eles agiam, desde 1966, para proteger as comunidades negras da repressão
da polícia, e defendiam, entre outros interesses, o armamento e a libertação
de todos os negros que estivessem presos.
Como argumento, alegavam que todo negro que estava preso não havia tido
um julgamento justo, por não terem sido sentenciados por outros negros
ou por pessoas de suas classes sociais, que entendiam a situação que elas
passavam em suas comunidades.
O grupo teve bastante crescimento na segunda metade da década e seu ápice
foi quando atingiu mais de dois mil membros. Porém, com o aumento da violência,
tanto por parte dos Black Panthers quanto por parte da polícia, eles perderam
força, até ser extinguido no começo dos anos 80.
Hoje em dia, é possível ver o avanço nos direitos conquistados pelas mulheres.
Apesar de a desigualdade ainda ser muito grande, e a luta do Movimento
Feminista estar longe de acabar, atualmente a mulher tem direito ao voto,
possui uma maior participação na política e está em um número cada vez
maior nas universidades. E as conquistas não param no âmbito civil: sexualmente
falando, hoje a mulher está cada vez mais livre de tabus e dona do próprio
corpo.
Mas essa luta não começou nos últimos 20 anos. Desde a segunda metade
dos anos 60, com o surgimento do Feminismo Contemporâneo – ou segunda onda
do feminismo, como é às vezes chamado – a mulher vem adquirindo seus direitos.
Há mais de sessenta anos, a quebra de vários tabus foi realizada, e a principal
conquista foi a liberação sexual, com a qual se passou a não aceitar mais
o sexo apenas com o intuito de procriar e servir ao marido.
Com esta conquista, seguiram o uso de métodos contraceptivos, como as
chamadas “pílulas do dia seguinte” e anticoncepcionais para evitar a gravidez;
o aborto e o divórcio.
Mulheres protestavam pela busca de liberdade nos anos 60 / Foto: Reprodução-PBS Learning Media
“Imagine que não há países, não é difícil imaginar. Nada pelo que matar
ou morrer, e sem religião também. Imagine todas as pessoas vivendo em paz”.
O trecho é de uma música lançada por John Lennon em 1971, mas que caminha
junto a um movimento que surgiu e teve grande crescimento nos anos 60.
O movimento de contracultura Hippie surgiu na segunda metade da década
como forma de negar toda a violência que os Estados Unidos enfrentavam,
principalmente com as ofensivas ao Vietnã. O movimento pregava, além da
paz coletiva, o amor livre, o fim de valores tradicionais e do sistema
capitalista, assim como de regimes totalitários e opressores.
Diferente de muitos movimentos de contracultura, os Hippies não desejavam
ter ou fazer parte de política. Seus únicos interesses eram mudar o mundo
apenas pregando seus ideais. Negavam a tudo o que o capitalismo impunha
à sociedade, nem que para isso tivessem que viver sem moradia fixa, muitas
vezes como andarilhos, e tornaram esse comportamento como uma “marca registrada”
deles.
O visual dos seguidores do movimento Hippie era basicamente o mesmo: roupas
largas, calças boca-de-sino, com as vestimentas tão coloridas quanto seus
pensamentos. Deixavam cabelos e barbas crescerem, os quais faziam com que
eles fossem mal vistos pela sociedade tradicional, por causa do cheiro
e da aparência. Mas, como a proposta era justamente não se preocupar com
valores tradicionais, isso não era problema.
O principal evento que envolveu Hippies foi o primeiro Festival de Woodstock,
realizado em 1969. Ele contou com participações de grandes nomes da música
pop e rock da época, como Jimi Hendrix, Santana, Creedence Clearwater Revival,
The Who e Janis Joplin. Inicialmente, o festival teria entrada limitada
e paga, porém o sucesso foi tão grande que multidões de pessoas se aglomeraram
em volta do local de evento e, consequentemente, as grades que faziam a
delimitação da festa foram removidas, tornando o restante do evento, desde
a primeira noite de show, gratuito.
Imagine-se vivendo uma situação na qual você está preso sob regras e normas.
No trabalho, nos estudos ou na vida pessoal. Em algum desses ambientes,
todos nós – seres humanos – estamos sujeitos a pressões e agir com determinados
padrões que não nos permitem uma autonomia nas próprias ações.
O jornalismo também já viveu um momento como esse. Durante as Guerras
Mundiais do século XX, os jornais se viram na necessidade de passar as
notícias de forma mais rápida. Com isso, foram criados o lead e a pirâmide
invertida, na qual os fatos mais importantes são priorizados no início
de uma matéria, para depois serem complementados. Isso foi criado para
que, caso houvesse alguma falha durante a comunicação, não houvesse uma
total perda da notícia.
Após a Segunda Guerra Mundial, com o crescimento dessa nova forma de se
fazer jornalismo, alguns profissionais se viam perdendo as práticas de
jornalismo que tinham antes. Tudo passava a ser mais padronizado e, consequentemente,
os textos já não tinham mais a mesma “graça” e autoralidade dos textos
de antes.
O
new journalism surgiu, nos anos 60, para combater essa forma
de jornalismo, assim como todos os movimentos de contracultura da década,
a fim de levar o jornalismo, novamente, às glórias do passado, com matérias
mais bem elaboradas, com textos mais literários e mais “divertidos” de
se ler do que os tradicionais no formato de pirâmide invertida.
Essa corrente do jornalismo literário harmoniza bastante com as palavras.
Uma das principais características dessa corrente do jornalismo é o uso
demasiado de diálogos, comparações e analogias, descrição de ambientes
e também construção cena a cena de fatos, como se fosse os bastidores de
um fato.
Dentro desse estilo de escrita, jornalistas como Truman Capote, Gay Talese
e Tom Wolfe se tornaram verdadeiros autores de histórias não-fictícias,
que mais pareciam novelas do que meramente um produto jornalístico. Uma
das principais obras desse segmento é a reportagem “Frank Sinatra está
resfriado”, escrita por Gay Talese para a revista Esquire, na qual ele
escreve sobre o cantor sem sequer entrevistá-lo, apenas o acompanhando
em alguns lugares e conversando com as pessoas próximas a ele.
Outro exemplo do
new journalism no qual o autor usa bastante a construção cena
a cena é a série de reportagens “A Sangue Frio”, escrita por Truman Capote
para a revista The New Yorker. Ela foi dividida em quatro publicações da
revista, posteriormente lançada em um livro com o compilado de todos os
capítulos. Para escrevê-la, Capote apura, durante cinco anos, os fatos
e investigações de um assassinato ocorrido em 1959.
Da mesma forma que os demais movimentos de contracultura americanos, os
quais revolucionaram as relações e as conquistas sociais dos anos 1960,
as marcas na imprensa deixadas pelo “novo jornalismo” também são espelhadas
em diversas produções atuais, em especial de revistas e livros-reportagem,
em todo o mundo.