O estilo literário aplicado ao principal periódico impresso praticante dessa escrita
Nos últimos anos do Brasil monárquico, um médico foi responsável por defender
a liberdade de imprensa e o fim daquele sistema de governo. Giovanni Battista
Libero Badaró, italiano naturalizado brasileiro e radicado em São Paulo,
fundou o jornal O Observatório Constitucional em 1829 e atuou no jornalismo
para se opor ao regime absolutista. Mas não por muito tempo.
Na noite do dia 20 de novembro de 1830, um atentado lhe tirou a vida com
tiros de pistola no caminho para seu lar, na rua São José – hoje, rua Libero
Badaró. O seu assassinato fez aumentarem não somente os movimentos populares
contra o governo como também a fragilidade do imperador Dom Pedro I, que
– em 7 de abril de 1831 – abdicou do trono, voltou para Portugal e deixou
Dom Pedro II, seu filho de 14 anos, em seu lugar.
Cem anos depois da queda do monarca, a data de 7 de abril seria declarada,
pela Associação Brasileira de Imprensa, como o Dia do Jornalista, em homenagem
a Libero Badaró.
Mas o Dia do Jornalista de 2017 foi especial. Um telefone toca, às 10
horas da manhã, na redação do principal veículo brasileiro praticante do
jornalismo narrativo no século XXI:
- Revista Piauí.
- Bom dia! Com quem eu falo?
- Simone.
- Olá, Simone. Gostaria de falar com Rafael Cariello.
- Quem deseja?
- Rafael Barbosa.
- Só um minuto.
- Ok. Obrigado.
- Alô.
- Alô. Quem é?
- É Raquel.
- Oi, Raquel! Tudo bem? É o Rafael Barbosa.
- Oi! Tudo bom. Estava esperando tua ligação.
- Bom falar com você, viu.
- Que bom! Vou passar para o seu xará aqui então. Beijo e boa sorte!
- Beijo. Obrigado!
Influenciado pela revista americana
The New Yorker – sua principal fonte de leitura desde quando
era correspondente da Folha de São Paulo em Nova York – e principalmente
pelo perfil “Frank Sinatra está resfriado”, escrito por Gay Talese, Rafael
Cariello não encontrou no veículo onde trabalhava tanto espaço para mergulhar
no jornalismo narrativo – como prefere chamar o jornalismo literário –
quanto tem na Revista Piauí.
Mas a história da revista é seis anos anterior à de Cariello nela, onde
é editor e repórter. Em outubro 2006, João Moreira Salles fundou o periódico
com o pensamento de que “o ideal é que os textos sejam interessantes, bem
escritos e divertidos. Aí cabem desde o stalinista até o sujeito da propriedade.
Ninguém será excluído por sua posição ideológica", como afirmou à Folha
na época.
A carência de veículos de comunicação que utilizavam um estilo autoral
nos textos deu à Piauí um caminho vazio desde 1976, quando parou de circular
a Revista Realidade. Como o próprio site do periódico diz, ele “busca boas
histórias – e bem contadas. Cobre qualquer assunto que uma reportagem possa
tornar interessante. Tem sempre em mente que a informação vem antes do
comentário, que os fatos precedem as opiniões. Demonstra que seriedade
não é sinônimo de sisudez e que profundidade é compatível com leveza”.
- Alô.
- Olá. Rafael? - Sou eu.
- Aqui é o Rafael Barbosa. Tudo bem?
- Oh, Rafael. Tudo joia, cara!
- Então, eu sou estudante de jornalismo da FIAM. Eu e mais dois amigos
meus estamos fazendo o nosso projeto de TCC, com o tema “As relações entre
o
new journalism e a prática atual do jornalismo literário no Brasil”,
e nós vamos fazer uma reportagem multimídia. Que é o produto do nosso TCC
para falar sobre essa história.
- Perfeito.
- Primeiramente, Feliz Dia do Jornalista para você e todos aí da revista.
Podemos começar a entrevista?
- Podemos. Deixa eu só te perguntar: você falou que vai ser multimídia?
A nossa conversa, você vai usá-la num texto... você vai gravar e vai usar
o áudio...?
- Pretendo usar tanto o texto quanto o áudio da entrevista.
- Está bom. Sem problemas.
- Certo. Está sendo gravado, lógico, para facilitar.
- Sim.
- Podemos começar?
- Podemos sim.
- Primeiramente, agradeço muito por ter aceitado falar com a gente.
- Não se preocupe. O prazer é meu.
- Obrigado! O prazer é nosso também.